Aedes aegypti - nova geração não precisa de água limpa para se reproduzir.

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A dengue é uma doença tratável, mas ainda não tem vacina. Por isso, eliminar o transmissor é o único meio de erradicá-la. O Brasil já conseguiu isso 50 anos atrás, mas o Aedes aegypti voltou mais resistente. As novas gerações do mosquito são imunes a muitos inseticidas e não precisam mais de água limpa para se reproduzir.

O cenário urbano é o que apresenta as condições ideais para o mosquito da dengue se desenvolver: concentração de gente significa fartura de alimento. Água parada nos quintais das casas, terrenos baldios e construções favorecem sua reprodução.
 
Um mosquito ágil e ávido por sangue humano. Diferente de outros insetos, o Aedes aegypti pode picar várias pessoas num curto intervalo de tempo. Depois de se alimentar, demora entre dois e quatro dias para desovar em pontos diferentes.

"Com isso ele tem facilidade de transmitir e tem uma facilidade grande de dispersão numa área.", disse o entomologista da Fiocruz Sérgio Luiz.

"No ambiente urbano, ele é um vetor, por essa biologia de se picar várias pessoas e se espalhar em vários tipos de criadouro, ele se torna um potencial inimigo da população.", completa.

O mosquito pode pôr cerca de cem ovos a cada desova. Em contato com a água viram larvas em 48 horas. Em sete dias se transformam em mosquitos. Os especialistas descobriram que os ovos tem alta resistência, podem sobreviver até um ano fora d´água.

"É um dos insetos que mais se disseminou nos últimos 50 anos. A circulação do vírus tá aumentando em todo país e trazendo um risco muito grande para a saúde da população.", afirma o médico infectologista Antônio Magela.

O Aedes aegypti chegou ao país no período colonial, veio da África nos navios que traziam os escravos. Na década de 50 chegou a ser eliminado, mas foi reintroduzido nos anos 70, provavelmente vindo de um país do Caribe.

Pesquisadores de várias instituições formaram uma equipe e passaram a atuar  juntos em Manaus. Eles coletam os mosquitos da dengue em várias partes da cidade, querem acompanhar  possíveis mudanças na biologia do inseto. Entender o comportamento do Aedes aegypti pode ditar os novos rumos no trabalho de controle do vetor da dengue.

O virologista Felipe Naveca vai mais longe: a pesquisa também vai apontar a origem e os tipos de vírus da dengue que circulam na cidade, o que pode ajudar em medidas preventivas contra a doença.

"Normalmente os vírus asiáticos estão associados com quadros mais graves ou com maior virulência. A gente conseguindo traçar como esse vírus tá se espalhando, aumenta a chance da gente ter um diagnóstico mais rápido.", declarou.

O mosquito da dengue adquiriu nas últimas décadas resistência a inseticidas. Ademir é entomologista da Fiocruz, no Rio. Segundo ele, o uso indiscriminado do fumacê e outros inseticidas colabora na formação de uma geração de mosquitos ainda mais perigosa.

O inseto também mostra que pode se adaptar a ambientes antes considerados impróprios para a reprodução.
  
“Há um cabedal genético que permite que esses organismos se adaptem a diferentes condições. Então na Austrália foi detectado que o Aedes está explorando o esgoto. Por quê? Por causa da seca que anda acontecendo por lá.”, disse o entomologista Wanderli Tadei.

São sinais de que a batalha contra o mosquito ainda vai exigir muito mais atenção e recursos.


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