Corrida sem Medidores: O Prazer de Correr por Correr

Corredor maduro observando o pôr do sol após uma corrida ao ar livre, sem celular ou dispositivos, em conexão com a natureza.
Vivemos em uma era em que tudo é metrificado. Na corrida de rua, os aplicativos de monitoramento, os dispositivos vestíveis e as métricas de performance se tornaram quase indispensáveis. Pace, distância, elevação, cadência — tudo é registrado, analisado e compartilhado. No entanto, por trás dessa busca constante por resultados, há algo que muitos corredores acabam esquecendo: o prazer essencial de simplesmente correr.

Recentemente, tive uma experiência que desafiou minha própria rotina como corredor. Decidi sair para correr sem o celular, sem o aplicativo Adidas Running, sem música, sem vídeos, sem fotos. Pela primeira vez em muito tempo, não havia medições, registros ou notificações. A corrida não tinha um destino específico nem um tempo-alvo. E mais: troquei o habitual treino matinal por uma corrida no final da tarde.

O que parecia estranho no início revelou-se libertador. A ausência de tecnologia abriu espaço para uma presença mais plena no momento. Com os sentidos mais atentos, tive a sorte de presenciar um espetáculo natural raríssimo: o sol vermelho se pondo atrás das montanhas, lentamente cedendo lugar à noite. Foi um convite à contemplação — algo que muitas vezes deixamos de lado em nome da produtividade.

Essa vivência me levou a refletir sobre o verdadeiro papel da corrida em nossas vidas. Será que correr precisa estar sempre atrelado à performance? Será que os dispositivos que usamos, embora úteis, não nos afastam da essência do movimento? Há um valor inestimável em, ocasionalmente, abandonar as métricas e reencontrar o propósito mais primitivo da corrida: a liberdade.

Claro, treinar com foco e disciplina é importante, especialmente para quem tem metas e objetivos definidos. No entanto, também é saudável — e necessário — se permitir momentos como esse, onde o corpo se move guiado apenas pela vontade e pelo prazer de estar em movimento. Correr sem relógio, sem celular, sem prova marcada. Apenas correr.

O pôr do sol que testemunhei foi mais do que uma paisagem bonita. Foi um lembrete de que, muitas vezes, o que há de mais valioso na corrida não pode ser mensurado: o silêncio interior, a paz que nasce no ritmo dos passos, a conexão com a natureza e consigo mesmo.

Portanto, se você, leitor do Corrida aos 50+, ainda não experimentou uma corrida sem tecnologia, fica aqui um convite. Desligue o mundo por um momento. Troque a tela pela paisagem. Permita-se correr não por tempo ou distância, mas por presença. Porque, no fim das contas, os momentos mais bonitos da corrida não cabem em nenhum aplicativo — eles ficam gravados na alma.