O jogo político e o gol contra do governador Sérgio Cabral


Sérgio Cabral com a sua infeliz declaração de que não votaria em Dilma Rousseff se a chefe da Casa Civil subisse no palanque de Garotinho.

As declarações do prefeito Lindberg Farias – O Globo de 30 de março – anunciando que, no Estado do Rio de Janeiro, o presidente Lula pedirá votos para sua candidatura a senador e também para a reeleição de Marcelo Crivella, reportagem de Cássio Bruno. E deve também assegurar a vitória de Lindberg Farias, escolhido candidato único do PT, quando pela lei a legenda pode concorrer com dois nomes, já que são as duas vagas em jogo.

Isso de um lado. De outro, a afirmação de Lula o aproxima mais de Anthony Garotinho e o distancia de forma acentuada do governador Sérgio Cabral. Por que isso? Simplesmente porque Cabral apóia Jorge Picciani, do PMDB, para o Senado, o principal atingido pela afirmação do presidente. Os votos que Picciani vai perder em conseqüência da opção de Lula vão se refletir é claro, não apenas nele, mas na chapa que integra como companheiro inseparável do governador, desde o tempo em que o primeiro presidia a Assembléia Legislativa e o segundo ocupava o cargo estratégico de primeiro secretário em matéria de administração interna da Casa.

Lula pedindo votos para Lindberg atinge Sérgio Cabral de forma indireta, quebrando a base de Picciani no interior do Estado. Base das mais possantes, uma vez que, com ela, conseguiu que seu filho Leonardo alcançasse 170 mil para deputado federal. Ter 170 mil votos não é brincadeira. O milionário Ronaldo Cesar Coelho elegeu-se com 50 a 60 mil votos. Portanto, o esforço em favor de Leonardo foi quase três vezes maior. Dose para dinossauro.

Sem o apoio de Lula, os recursos eleitorais de Picciani não valem nada. Não serão suficientes para elegê-lo nem em segundo lugar, porque inclusive existe ainda a candidata do Partido Verde, Aspásia Camargo, que, a meu ver, deveria ser substituída por uma pessoa mais afirmativa como a vereadora Teresa Bergher, muito mais disposta ao combate do que a postura fria e defensiva de Aspásia. Mas esta é outra questão.

O principal é que o apoio de Lula a Marcelo Crivella, que por sua vez já tem o apoio de Wagner Montes, para quem trabalha na TV Record, deixará o bispo forte demais, praticamente imbatível. Picciani, sem Cabral, ou com Cabral enfraquecido, não representa nada.

O poder econômico pode pesar para as eleições proporcionais. Mas nenhum efeito produz em disputas majoritárias. Se fosse assim, Ermírio de Moraes não teria perdido o governo de São Paulo para Orestes Quércia em 86. E perdeu. O que provavelmente aconteceu foi de Lula ter se irritado com Sérgio Cabral com a sua infeliz declaração de que não votaria em Dilma Rousseff se a chefe da Casa Civil subisse no palanque de Garotinho. Ora, um presidente da República não pode receber ameaça e menos ainda ultimatos desse tipo. O resultado aí está: o apoio a Lindberg, que é do PT, mas paralelamente o apoio a Crivella que pertence aos quadros do PRB.

No episódio – que para Noel Rosa foi um palpite infeliz – Sérgio Cabral pode ter jogado fora, pela janela do destino, a sua reeleição ao Palácio Guanabara. Inclusive porque ele lidera o páreo até agora, mas o segundo turno contra Gabeira ou Anthony Garotinho passou a ser ainda mais certo agora.

Política é como a vida humana. Os episódios nunca se encerram em si. Continua, produzem reflexos, projetam-se no espelho dos fatos que, como todos os reflexos, trocam as imagens de um lado para outro. Marcelo Crivella surge como o primeiro vitorioso nas eleições do Rio. E, claro, vai apoiar Dilma Rousseff. Antes de Cabral fazê-lo.

O governador cometeu um gol contra si mesmo terrível.



Edição: Washington Luiz / Fonte: Tribuna da Imprensa - Por Pedro Couto

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