Papa faz crítica ao método de investigação da polícia belga nos casos de abusos sexuais ocorridos na igreja católica.

A igreja católica tem sido ligada a abusos sexuais a crianças em vários países. Hoje, os responsáveis católicos desse da Bélgica revelam testemunhos de 507 vítimas de abusos, levadas a cabo por membros da igreja. Uma comissão de investigação da igreja católica belga divulgou um relatório sobre os abusos sexuais praticados pela igreja católica nesse país, sustentando-se em centenas de relatos das supostas vítimas. Segundo a investigação, esses testemunhos relatam casos de abusos a crianças que duraram décadas, entre os anos 50 e 80. Vítimas dos abusos sexuais de eclesiásticos, 13 das vítimas suicidaram-se e outras seis pessoas tentaram o mesmo ato, sem sucesso. Peter Adriaenssens, o presidente da comissão responsável pela investigação, afirma no entanto, que conta com o relato de 507 testemunhas. "As vítimas esperam e merecem uma igreja valente, que não tenha medo de enfrentar a sua vulnerabilidade, que reconheça e que coopere para encontrarmos as respostas." 

Demissão de bispo terá sido incentivo

A maioria destes casos chegou à comissão depois de Roger Vangheluewe, um bispo da igreja ter sido demitido, acusado de violar o seu sobrinho entre 1973 e 1986. No entanto, ficou-se hoje também a saber que essa demissão proporciona-lhe uma pensão de 2 800€ por mês. O que é certo é que a demissão de Vangheluewe foi o incentivo que faltava a outras vítimas. Desde a sua saída, as denúncias multiplicaram-se e contribuem agora para os 507 testemunhas. 

O relatório

Segundo a 'Associated Press', pode ler-se detalhadamente no relatório de 200 páginas (ver no final do texto) o tipo de abusos praticados pelos clérigos, desde "sexo anal, oral, vaginal e outras barbaridades". Das 507 vítimas, 327 são do sexo masculino e a maioria teria 12 anos de idade. No entanto, há testemunhos de violações a um bebé de apenas dois anos, cinco casos com crianças com quatro anos e oito de cinco anos. Quase todos os violadores seriam membros eclesiásticos, mas há também denúncias a pessoas que aliciavam as crianças "depois da missa". 

Crimes prescritos mas investigação continua

A maioria dos casos não vão sequer ser postos em tribunal porque, segundo a lei belga, os crimes sexuais contra crianças não podem ser julgados quando já passaram mais de 10 anos após a vítima ter celebrado os 18 anos. Grande parte das vítimas têm agora entre 40 a 70 anos (relembro que a maior quantidade de testemunhos refere-se às décadas entre os anos 50 e 80) e também a maioria dos violadores já terá morrido. Em abril deste ano, a polícia e as autoridades belgas forçaram a entrada em dois escritórios da igreja belga, à procura de provas, de onde apreenderam ficheiros e computadores e profanaram pelo menos um túmulo. Alguns dos ficheiros que poderiam constar no relatório foram apreendidos após estas ações terem sido consideradas ilegais. Quando soube do caso, o papa Bento XVI, em nome da igreja católica, expressou "solidariedade para a igreja pela forma surpreendente e métodos deploráveis em que foram feitas as buscas" da polícia belga