Glória Perez abusa do "conceito de novela" em "Salve Jorge", diz colunista.

(Nanda Costa, interpreta a "Morena", Salve Jorge - TV Globo)

É comum que até as melhores novelas derrapem uma vez ou outra na verossimilhança, levando ao ar soluções de roteiro que soam um tanto improvisadas, absurdas, enfim, folhetinescas.Nesta sexta-feira, 14 de dezembro, a colunista Patricia Vilalba, que assina a coluna "Entretenimento", do jornal Tribuna Hoje, postou um artigo com algumas críticas sobre a novela "Salve Jorge", de Glória Perez. 

De acordo com a colunista, o que vira munição para os críticos do gênero em geral não passa de um recurso absolutamente necessário, seja para encurtar ou esticar um acontecimento. Daí, as coincidências e reviravoltas que fazem a gente exclamar no sofá: “Só pode ser coisa de novela!”

Segundo Patricia, a autora Glória Perez tem usado e abusado do conceito “coisa de novela” em Salve Jorge – e olhe que só se foram 45 capítulos. As sucessivas tentativas de fuga de Morena (Nanda Costa), que se tornaram diárias e são devidamente anunciadas à imprensa e nas redes sociais como grandes acontecimentos, acabam frustradas da maneira mais rocambolesca possível. 

A colunista compara o folhetim da Globo com "Caverna do Dragão", desenho animado em que um grupo de crianças tentava, em vão, escapar de um mundo mágico e voltar para casa. Mais do que a heroína é azarada, o capanga Russo (Adriano Garib) parece ser onipresente. Ela foge e – pronto! – dá de cara com ele na rua; ela consegue um celular e – de novo! – ele aparece para cortar o barato. As traficadas botam fogo no cativeiro e antes que Jéssica (Carolina Dieckmann) consiga dizer uma palavra ao bombeiro turco – mais uma vez! – o malvado está lá com a indefectível cara de mau. Não é só Russo que se divide por todos os cantos da novela.

Ainda de acordo com Patricia Vilalba, Wanda (Totia Meirelles) deve ser a traficante de pessoas mais ativa de todos os tempos. Fora Morena, Jéssica e todas as moças do bordel de Istambul, ela negociou um bebê para Berna (Zezé Polessa) – hoje a já adulta Aisha (Dani Moreno). E adivinhe quem é a mãe biológica de Aisha? Tudo indica que é Delzuite (Solange Badim), que logo vai descobrir o túmulo vazio do bebê que acreditava ter morrido no parto, anos e anos atrás. Delzuite é vizinha de Lucimar (Dira Paes), mãe de Morena.

Não é uma incrível coincidência que as duas, moradoras do mesmo Complexo do Alemão, tenham tido as filhas traficadas pela mesma megera, com duas décadas de intervalo? Só pode ser “coisa de novela”, como a própria escolha de Morena para ser levada para a Turquia. Por que ela, e não Sheila (Lucy Ramos), que participou do teste e é mais bonita, mais alta, mais doce, mais ingênua e, principalmente, é o tipo de “brasileira exportação” que agregaria mais valor aos negócios de Lívia (Claudia Raia)? Não deu para entender, indaga a colunista.

Mas nada na trama ganha em absurdo da sequência em que Théo (Rodrigo Lombardi) correu pelo Rio de Janeiro para impedir a viagem de Morena. Fora invadir a área de embarque internacional do Aeroporto Tom Jobim, o que já seria motivo de prisão, o capitão do Exército roubou uma moto, no meio do trânsito.

E quando a telespectadora já estava preocupada com o futuro do militar, descobre-se no capítulo seguinte que a moto era do padrinho dele – que, claro, não prestou queixa.

Na vida real, seria motivo para uma expulsão da corporação. Mas, vá lá, é novela, concluiu a colunista.

Texto de Patricia Vilalba, da Tribuna Hoje | Momento Verdadeiro.