Arnaldo Jabor e a "teologia da libertação".

(Foto/Reprodução de Internet)
Arnaldo Jabor e a "teologia da libertação sexual". O cineasta, roteirista, diretor de cinema e TV, produtor cinematográfico, dramaturgo, crítico, jornalista e escritor brasileiro escreveu um artigo para o jornal "O Estado de São Paulo" onde fala sobre pedofilia na Igreja Católica Apostólica Romana

O jornalista relata que no colégio de padres onde estudou, 'sexo' era a palavra evitada, mas que estava em toda parte, como uma ameaça vermelha.O Diabo nos espreitava detrás das estátuas de Santa Tereza em êxtase, nas coxas dos anjinhos nus, nos seios fervorosos das beatas acendendo velas.

Segundo Arnaldo Jabor, na escola havia um padre que era popular entre os alunos porque fazia mágicas com rara habilidade. Nos recreios, era cercado por meninos vendo ovos saírem de suas orelhas, moedas tiradas da boca, flores explodindo em buquês entre seus dedos magros e enrugados. Ele tinha também um teatro de bonecos. Um dia levou-me até sua sala para me mostrar marionetes novas. O padre parecia nervoso e começou a criticar meu cabelo despenteado, eriçado. Pegou um pente, começou a me pentear com mãos trêmulas e de repente me deu um beijo na boca. Fugi em pânico até a saída onde meu pai me esperava no carro e, apavorado, não disse nada. Só contei em confissão a um outro padre, que fingiu não entender bem e senti que ele sabia do vício do colega; ele mudou de assunto como se a pedofilia fosse um mal inevitável, para a manutenção do celibato. Falei a um outro padre que me ouviu ceticamente e me acalmou, acariciando-me a mão como se eu estivesse perturbado, imaginando absurdos. Comecei a entender que, além do pecado e da virtude, havia um corporativismo espiritual a defender práticas escusas. Já comentei aqui esse antigo assédio e, no dia seguinte, muitos colegas do colégio me ligaram: "Ah... aposto que foi o padre tal, não foi?" Todo mundo sabia desse e de outros casos, tudo num silêncio deliberado. Percebo hoje que, não só entre os padres obrigados a castidade havia essa compulsão; muitos colegas de classe já partiam para uma saída homossexual aflita, torturada, entre as inúmeras proibições e preconceitos.

Mas nem sempre foi assim. São Pedro era casado. Outros seis papas tiveram mulher e filhos também. Até que, em 1073, o papa Gregório VII proibiu o desejo (literalmente), porque padres casados tendiam a se distrair das tarefas religiosas (já imaginaram rezar a missa depois de uma boa 'DR' com a mulher?). Pois é; mas o motivo verdadeiro era impedir que viúvas e filhos herdassem bens dos sacerdotes, que deviam ser repassados à Igreja.

Uma das grandes desvantagens da Igreja Católica, perante outras religiões, é esse celibato implacável. Estão diminuindo muito as vocações para seminaristas, que buscam a religião pela fome ou por um lugar social. Rabinos casam, pastores protestantes casam, budistas "do it", mesmo muçulmanos "do it". A ideia de castidade gera um atraso em cascata em relação aos problemas contemporâneos. Enquanto os pentecostais botam pra quebrar em bailes "gospel", em shows de Jesus Funk, a Igreja Católica vai mergulhando na Idade Média. Acho que está chegando a hora de uma "teologia da libertação sexual".

O texto foi resumido, mas pode ser lido na íntegra (aqui)

(Momento Verdadeiro| Fonte: Jornal "O Estado de São Paulo")