Artigo do New York Times analisa os principais candidatos à presidência no segundo turno.


Um artigo publicado no New York Times, neste domingo (5), analisou o primeiro turno das eleições brasileiras para presidente, onde Dilma Roussef, que ocupa o cargo atualmente, surgiu como a favorita em um das eleições mais disputadas desde que a democracia foi restabelecida no país. No entanto, na primeira fase da corrida presidencial, a presidente não conseguiu a maioria dos votos, abrindo o caminho para o segundo turno com Aécio Neves que, segundo o New York Times, “é herdeiro de uma família poderosa politicamente, com tendências a favor do mercado financeiro”.

O New York Times destaca que “a forte presença de Aécio Neves, senador do estado de Minas Gerais permitiu que ele superasse Marina Silva”, que aparecia em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos. No entanto, a postura de líder ambientalistas e a posição de destaque nas pesquisas de setembro não foram o suficiente e a candidata, que parecia a maior ameaça a candidatura de Dilma Roussef, foi eliminada no primeiro turno.

As apurações apontaram que Dilma conseguiu 41,5% dos votos contra 33,7% de Aécio Neves, enquanto Marina Silva teve 21,3%, já com 99% dos votos apurados.

Segundo o New York Times, enquanto Dilma parece continuar como a favorita do segundo turno, no dia 26 de outubro, a subida de Aécio poderia refletir um possível desencantamento com o PT, que está procurando se manter no poder entre as criticas de uma economia estagnada e um escândalo na indústria de petróleo no país, envolvendo a Petrobras.

O jornal americano chama a atenção ainda para o fato de que os diversos protestos que abalaram o país, aconteceram durante o mandato de Dilma. Apesar dessa “acidificação” do humor nacional e dos enormes protestos em 2013, a campanha da atual presidente foi impulsionada por políticas sociais, se concentrando em preservar empregos e expandir os programas sociais. Enquanto Aécio, durante sua campanha, criticou o escândalo da Petrobras. O episódio envolveu um ex-executivo e “acabou revelando um enorme esquema de superfaturamento destinado a apoiar figuras na aliança de governo de Dilma”.

No entanto, a enfase dada, durante a campanha da presidente Dilma, em proteger as conquistas do governo, sem perder tempo em ataque, ajudou a fortalecer a campanha nos últimos dois meses e muitos eleitores começaram a demonstrar preocupação de que os rivais de Dilma pudessem desmontar a rede de programas do governo de combate a pobreza, que começou após a entrada do PT no governo.

"Há um monte de corrupção no governo, mas não há corrupção em todos os governos?", disse Luís Carlos Silva, 47 anos, um garçom em um restaurante no centro do Rio de Janeiro, entrevistado pelo New York Times. Essa afirmação comprova que, apesar de tudo, Dilma, que está no poder desde 2003, já ajudou muitos brasileiros a ascenderem à classe média, especialmente no Ceará, durante o seu governo. “A vida melhorou com Dilma”, afirmou o garçom durante a entrevista.

A eleição tem sido seguida de perto pela América Latina, com o governo de Dilma tendo apoiado governos de esquerda como a Venezuela e Cuba. A campanha também tem criado uma volatilidade no mercado financeiro com grandes investidores expressando ansiedade com algumas políticas do governo de Dilma, que expandiu a influências das estatais no país.

Sr. Neves, 54, já sinalizou que iria pôr em prática políticas destinadas a acalmar os mercados, como aliviar os controles sobre os preços dos combustíveis e aumentar a transparência das finanças públicas. Um dos principais assessores de sua campanha é Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central  e que agora opera uma empresa de investimento com sede no Rio.

“Em uma eleição cheia de mudanças repentinas, a campanha se alterou em agosto, quando Eduardo Campos, candidato a presidência e ex-governador de Pernambuco, foi morto em um acidente de avião”, relembra o New York Times. Com a morte de Eduardo Campos, Marina Silva ocupou o seu lugar na candidatura a presidência pelo PSB e grande parte das pesquisas de intenções de voto, já a apontavam como vencedora.

No entanto, alguns equívocos durante a campanha tiraram Marina Silva da liderança, como bem lembra o artigo do New York Times. “ O retrocesso no apoio ao casamento igualitário e as descrições vagas sobre como ela poderia mudar as instituições brasileiras, semeou a confusão entre os eleitores e Marina perdeu terreno enquanto a eleição foi se aproximando”, afirma o artigo.

Refletindo a consolidação da democracia no Brasil desde o regime militar, que terminou em 1985, as votações se desenrolaram sem grandes problemas. Além do voto para presidente os eleitores também escolheram governadores e deputados, federais e estaduais, nesta eleição.

O New York Times chama a atenção pelo reforço que o PSDB ganhou em São Paulo, porém destaca que o Aécio perdeu terreno para o PT em Minas Gerais, seu estado natal. No entanto, segundo o artigo do New York Times, “cansaço e desencanto” foram sentimentos em crescimento entre os eleitores. Uma prova disso, segundo o jornal, seria o desejo da maioria do eleitorado de “uma revisão da legislação, tornando o voto obrigatório para pessoas na faixa dos 18 aos 70 anos”. E Marina Silva tentou explorar esse sentimento com uma mensagem difusa de "nova política".

"De todos os candidatos, Marina é a única que realmente representa uma renovação", disse Carlos Alberto Ferreira, 62 anos, um aposentado que trabalha como guarda de segurança em um estacionamento para suplantar sua renda de aposentadoria insuficiente. "Ela fala diretamente ao povo’, afirmou o aposentado em entrevista para o NYT.

Segundo o artigo, Aécio só se tornará um desafio mais sério para Dilma, se começar a atrair os eleitores de Marina Silva. No entanto, o NYT destaca que Aécio enfrenta desconfianças dos eleitores mais pobre e problemas de corrupção do PSDB, incluindo aí o escândalo da fixação de preços nos contratos de fornecimento de equipamentos do metrô de São Paulo.

A corrida entre Dilma, uma ex-guerrilheira de esquerda, e Aécio Neves, cujo avô foi eleito presidente em 1985, mas adoeceu e morreu antes que ele pudesse assumir o cargo, sugere que a polarização que “pode se tornar mais aguda”, segundo NYT. Os dois representam ideologias rivais, com Dilma cortando o capitalismo do Estado e o Aécio Neves alegando que o papel do Estado na economia deve ser reduzido. Em uma declaração dada por Fernando Henrique, ex-presidente e apoiador da campanha de Aécio Neves, disse “cruamente” aos repórteres no domingo sobre o novo papel de Marina Silva, e que precisa acontecer agora, se o seu partido quiser derrubar Dilma: "Marina precisa vir para o nosso lado".


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Fonte: Jornal do Brasil

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