🌟 Conversando com os mortos: a polêmica da Inteligência Artificial 👻

Conversando com os mortos
Como amenizar a saudade deixada por alguém que morreu e ainda manter viva sua memória? Essa é uma questão que tem intrigado o ser humano há séculos. Diversas tentativas já foram feitas, desde monumentos e poemas até fotos e vídeos. No entanto, recentemente, tem-se discutido cada vez mais a possibilidade de usar a Inteligência Artificial para criar uma forma de interação com os mortos no futuro.

Um artigo no portal UOL trouxe à tona essa temática interessante, abordando a empresa HereAfter AI, localizada na Califórnia (EUA), que busca criar um "eu virtual" de uma pessoa falecida. A ideia é combinar centenas de respostas pessoais catalogadas em vida, que abrangem desde informações sobre infância, relacionamentos, personalidade e gostos, com a adição de voz, rosto e expressões, tudo recriado de forma fiel. Essa proposta, no entanto, levanta muitas questões éticas e emocionais.

Um episódio da série de ficção científica "Black Mirror" explorou uma ideia semelhante, mas mostrou desfechos não tão positivos para aqueles que aderiram a ela. Segundo um artigo da MIT Technology Review, revista do renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), embora a tecnologia atualmente disponível ainda não consiga replicar com perfeição uma pessoa falecida (a voz e o modo de falar podem ser um pouco diferentes), existem preocupações éticas sobre o uso da voz de uma pessoa, viva ou morta, e o risco de que esses serviços funcionem como gatilhos para aqueles que estão em luto.

Profissionais que estudam e trabalham com o processo de luto expressam preocupação em relação ao uso da IA para criar uma espécie de "imortalidade". Nazaré Jacobucci, psicóloga membro da ABMLuto (Associação Brasileira Multiprofissional sobre Luto), explica que o uso desses aplicativos pode prejudicar a compreensão da perda definitiva, uma vez que impedem a vivência real do processo de luto. Essa perspectiva é compartilhada por Gabriela Casellato, psicóloga especializada em luto pela PUC-SP, que compara esses aplicativos a drogas anestésicas falsas e viciantes, capazes de retardar o desenvolvimento de recursos pessoais de enfrentamento.

É importante considerar que, durante o luto, é natural querer revisitar o passado e relembrar os momentos compartilhados com quem partiu, através de fotos, gravações ou objetos pessoais. No entanto, acreditar em uma réplica criada por IA e interagir com ela é uma situação completamente diferente, como alerta Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp. Em momentos de fragilidade emocional, há o risco de se afastar da realidade.

Aqueles que se concentram excessivamente no passado podem se tornar reclusos e repetitivos sem perceber, desenvolvendo sentimentos de que a vida anterior era melhor, além de depressão e compulsões. Por isso, é necessário incentivar a busca por seguir em frente e se abrir para o novo, como explica Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador.

Enquanto novos desenvolvimentos surgem, as experiências dolorosas tendem a se tornar menos intensas. No entanto, para se beneficiar desse efeito do tempo, é essencial que a pessoa em luto se afaste dos gatilhos que disparam seu sofrimento. O processo de luto é altamente individual, podendo durar semanas, meses ou até anos. Se houver dificuldades, é fundamental buscar ajuda profissional desde o início, para que o processo de luto não se prolongue desnecessariamente.

Os aplicativos que se propõem a recriar digitalmente pessoas falecidas poderiam ser objetos de estudo para melhor compreensão científica desse fenômeno, como sugere o psiquiatra Eduardo Perin. No entanto, sem a intervenção de profissionais de saúde mental, eles não são indicados para tratar e superar o processo de luto. Caso fossem usados como ferramentas de reflexão e suporte, com a devida condução por parte de especialistas, talvez pudessem ter um lado positivo.

Portanto, é importante ressaltar que esses aplicativos não substituem o trabalho sério realizado por psiquiatras e psicólogos, profissionais habilitados para diagnosticar, prescrever medicamentos quando necessário e auxiliar na psicoterapia, ajudando os pacientes a compreender e vivenciar todos os estágios do luto, lidando com sentimentos de raiva, tristeza, culpa, negação e desesperança. A resolução da perda é um processo complexo que ocorre gradualmente, por meio de conversas e escuta genuínas.

O futuro da inteligência artificial na sociedade ainda é incerto, especialmente quando se trata de direcioná-la ao luto. Por enquanto, é importante reconhecer que o uso dessas tecnologias requer cuidado, acompanhamento profissional e reflexão sobre os impactos emocionais e éticos envolvidos. Afinal, cada indivíduo tem sua própria jornada de luto, e é essencial respeitar e apoiar esse processo de maneira saudável e sustentável.

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