Ahiqar, Esopo e a fábula do cão e do lobo: uma história de liberdade

Ahiqar foi um sábio e conselheiro do rei assírio Sargão II, que viveu no século VIII a.C. Segundo a tradição, ele era tio e tutor de Nadin, um jovem ambicioso e ingrato que conspirou contra ele para ocupar o seu cargo. Ahiqar foi condenado à morte pelo rei, mas conseguiu escapar com a ajuda de um carrasco que era seu amigo. Ele se escondeu em uma caverna, onde escreveu uma coleção de provérbios e ensinamentos que ficou conhecida como As Palavras de Ahiqar.

Entre esses provérbios, há uma história que conta como Ahiqar enganou o rei do Egito com uma fábula sobre um cão e um lobo. O rei do Egito enviou uma carta ao rei da Assíria, desafiando-o a resolver um enigma ou pagar um tributo. O enigma era o seguinte: “O que é mais forte que um leão e mais rápido que uma águia?” Ninguém na corte assíria soube responder, exceto Ahiqar, que saiu de seu esconderijo e se apresentou ao rei. Ele disse que a resposta era o cão, pois o cão é mais forte que o leão quando está junto com o homem, e mais rápido que a águia quando persegue uma lebre.

Para ilustrar a sua resposta, Ahiqar contou a fábula do cão e do lobo, que é a seguinte:

Um lobo faminto encontrou um cão gordo e bem alimentado na estrada. O lobo perguntou ao cão como ele conseguia viver tão bem, e o cão respondeu que ele servia a um homem rico, que lhe dava comida e abrigo em troca de sua fidelidade e proteção. O lobo ficou com inveja e quis seguir o exemplo do cão. O cão então convidou o lobo para ir com ele até a casa do seu amo, prometendo-lhe uma vida confortável e segura.

No caminho, porém, o lobo notou que o pescoço do cão estava marcado por uma coleira. Ele perguntou ao cão o que era aquilo, e o cão explicou que era o sinal da sua servidão ao homem. Ele disse que o homem às vezes o prendia com uma corrente, para impedir que ele saísse ou atacasse os visitantes. O lobo ficou horrorizado e disse ao cão que ele preferia viver livre na floresta, mesmo passando fome e frio, do que se submeter à escravidão do homem. Ele então se despediu do cão e voltou para o seu habitat.

Moral da Fábula 

Ahiqar enviou essa fábula ao rei do Egito, juntamente com a resposta ao enigma. O rei do Egito ficou impressionado com a sabedoria de Ahiqar e reconheceu a sua derrota. Ele enviou presentes ao rei da Assíria e pediu-lhe que poupasse a vida de Ahiqar. O rei da Assíria então perdoou Ahiqar e restaurou o seu cargo de conselheiro. Ele também puniu Nadin por sua traição e mandou-o para o exílio.

A fábula do cão e do lobo foi posteriormente adaptada por Esopo, um fabulista grego do século VI a.C., que é considerado o pai da fábula como gênero literário. Esopo atribuiu características humanas aos animais e usou-os como símbolos de vícios e virtudes humanas. Ele também acrescentou uma frase final à fábula, resumindo a sua lição moral: “É melhor ser livre com pouco do que escravo com muito”.

As fábulas de Esopo foram muito populares na Grécia Antiga e influenciaram outros escritores ao longo dos séculos, como Fedro, La Fontaine e Monteiro Lobato. Elas também foram transmitidas pela tradição oral em diversas culturas e línguas, ensinando valores morais e éticos de forma simples e divertida.

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