As duas faces da Dilma - e as mil faces do doutor Serra.

Agência Estado - O primeiro debate entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no segundo turno da campanha eleitoral foi marcado por polêmicas em torno de temas como legalização do aborto, privatizações e corrupção. Pela primeira vez, a iniciativa de atacar partiu da petista.

O tom do confronto se revelou logo no início do evento, exibido pela TV Bandeirantes. Dilma disse estar sendo vítima de "calúnias, mentiras e difamações" e acusou o vice de Serra, Índio da Costa, de organizar grupos para atingi-la.

O tucano, nesse momento, abordou a questão do aborto pela primeira vez. "Você disse que era a favor da liberação do aborto, depois disse que era contra. Aí se trata de ser coerente, de não ter duas caras", afirmou.

Em resposta, Dilma chamou o adversário de "mil caras" - termo que usou em outras duas ocasiões. A petista disse ainda que foi o próprio Serra, quando ministro da Saúde, quem "regulamentou o acesso ao aborto" no SUS (Sistema Único de Saúde).

Tolerância. O candidato do PSDB respondeu que apenas deu forma a uma norma técnica para balizar o atendimento de abortos relacionados a estupros ou a risco de vida para a gestante - os únicos casos em que são permitidos pela legislação. "Nunca defendi a liberação do aborto. Você defendeu e de repente muda. Com relação a Deus, é a mesma coisa. Em entrevistas, você diz que não sabe se acredita, se não acredita, e depois vira uma devota."

Dilma voltou à carga e disse ter sido vítima de ataques infundados da própria mulher do tucano, Monica Serra: "Ela disse que Dilma é a favor da morte de criancinhas". A petista acusou a campanha tucana de promover o "ódio" em um País marcado pela tolerância religiosa, étnica e cultural.

Prática e discurso. Os candidatos também polemizaram sobre as privatizações e a Petrobrás. A petista criticou a venda de ações da estatal, promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso, e procurou contrapor a operação à recente capitalização da empresa.

Serra acusou o PT de ter práticas diferentes do discurso em relação a privatizações, já que o próprio governo Lula vendeu dois bancos estatais. "É só chegar a campanha e o PT volta com essa estória. O governo (Lula) também aumentou a participação privada no Banco do Brasil."

Para insinuar que o PSDB defende a "privatização do pré-sal", Dilma citou supostas declarações de David Zylbersztein, que dirigiu a Agência Nacional do Petróleo no governo FHC, a favor da exploração das reservas recém-descobertas por empresas internacionais.

Militância estudantil. "As pessoas no Brasil sabem que tenho cabeça própria e que não fico na sombra dos outros", rebateu Serra, procurando se distanciar das supostas opiniões de Zylbersztein. "Não fui pinçado por outros. Minha vida pública sempre foi marcada pela coerência. Em relação à Petrobrás, tenho com ela uma relação especial. Desde que era líder estudantil sempre lutei pelo fortalecimento da Petrobrás."

O candidato tucano afirmou que, no governo FHC, a Petrobrás duplicou seu patrimônio. Lembrou ainda que a quebra do monopólio da estatal na exploração do petróleo foi elogiada por José Eduardo Dutra, atual presidente do PT e ex-presidente da Petrobrás no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao insistir no tema das privatizações, Dilma citou entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em que ele destacou o papel de Serra na venda da empresa Vale do Rio Doce.

Ao responder, o tucano destacou o fato de que fundos de pensão "dirigidos pelo PT" compraram grande parte da Vale. Ele também defendeu a privatização do sistema de telecomunicações. "O Brasil do PT seria o Brasil do orelhão, porque ninguém teria celular." Dilma rebateu: "Meu Brasil não é o do orelhão, é o da banda larga para todos os brasileiros e brasileiras.

Serra usou o recente escândalo na Casa Civil para atacar a adversária. Disse que a ex-ministra Erenice Guerra montou um esquema de corrupção. "É a privatização deles. Usam as empresas estatais em benefício próprio."

A candidata do PT colocou em dúvida a afirmação do rival de que manterá os programas sociais do governo Lula. Acusou Serra de ter interrompido "dois bons programas" do governo Geraldo Alckmin em São Paulo quando estava "brigado" com seu colega de partido.

Serra lembrou que Alckmin o apoia na disputa pela Presidência e negou discordâncias com o governador eleito de São Paulo.

Fonte:Estadão

Comentários

  1. As mil caras de José Caras:

    http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/10/478664.shtml

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