Nova moeda em Silva Jardim, munícipes trocam o Real pelo Capivari.

Reprodução - Há notas de C$ 0,50, C$ 1, C$ 5 e C$ 10. -
 O comerciante Geneci Nascimento não consegue esconder a felicidade. Ele, que há pouco mais de dois meses trabalhava no quintal de casa, no município de Silva Jardim, consertando bicicletas, agora tem a sua própria loja e acaba de pegar um empréstimo de R$ 800 para montar um estoque de peças para sua micro empresa. O dinheiro veio do Banco Capivari, o primeiro banco comunitário do estado do Rio, que abriu suas portas na cidade há uma semana.

- Os juros são bem menores, eu não conseguiria fazer isso se fosse em outro banco. Vou pagar o empréstimo em oito vezes. Vai ser de grande ajuda para mim. Sou nascido e criado aqui e acho que temos que gerar mais emprego mesmo na cidade - conta Nascimento.

O banco comunitário é um estabelecimento como outro qualquer, onde é possível pagar contas, pegar empréstimos para consumo ou produção, pagar faturas de cartão de crédito, água, telefone e energia com a vantagem de ter juros bem mais baixos que os de mercado. Eles variam entre 1,5% a 3%. A grande diferença e curiosidade é que, além do real, tudo isso pode ser feito na moeda local do município: o Capivari. Há notas de C$ 0,50, C$ 1, C$ 5 e C$ 10.

A intenção de criar um banco local e uma moeda específica é movimentar a economia da cidade, que tem 20 mil habitantes, além de aumentar a autoestima da população, acostumada a fazer compras e solicitar serviços em cidades próximas, como Rio das Ostras ou Casimiro de Abreu. Quem explica as vantagens da moeda local é a secretária de Turismo, Indústria e Comércio, Vera de Brito:

- Nosso objetivo é mudar a cultura da população a partir do cooperativismo. Queremos que o dinheiro fique na cidade, gerando renda aqui dentro. Queremos que a comunidade entenda que esse banco é dela. A moeda social é apenas uma vitrine de tudo o que queremos fazer na parte social - destaca. E a resposta da população já foi rápida. Em apenas uma semana, quatro empréstimos já foram concedidos e mais de R$ 6 mil foram trocados por capivaris no primeiro dia de funcionamento do banco, um recorde comparado aos outros 51 bancos sociais espalhados pelo país. Taxistas, postos de gasolina e lojistas já estão aceitando a moeda local. A vantagem, segundo o presidente da Associação Comercial de Silva Jardim, Aulus Macedo, é que o comércio oferece descontos para quem comprar na moeda local.

- Assim, as pessoas preferem comprar aqui do que pagar mais em outros municípios. As lojas já têm adesivos informando que aceitam capivaris. Outra vantagem é a redução da inadimplência porque, com os descontos, as pessoas pagam em dia. Toda a comunidade está engajada na mobilização pelo uso da moeda. As lojas dão descontos, a igreja estimula o uso, as escolas explicam as vantagens - detalha Macedo.

A interação com a comunidade, prossegue o presidente da Associação Comercial, é o motor do sistema. A análise de crédito para a concessão de empréstimos, por exemplo, acontece de forma diferente a de grandes bancos. Os analistas pesquisam a vida do interessado na própria comunidade, através dos vizinhos, na igreja ou no comércio local para ver se ele tem dívidas e se é, de fato, trabalhador.

A criação da moeda Capivari é amparada pela Lei de Economia Solidária proposta pela administração municipal e aprovada pela Câmara, no dia 17 de maio desse ano. O Banco do Brasil é parceiro da iniciativa e a Associação Comercial gerencia o projeto.

Imprensa-RJ

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