FHC: "Todo mundo sabe que houve o mensalão."

O ex-presidente do Brasil,  Fernando Henrique Cardoso, falou sobre rotatividade no poder, contexto atual e governos FHC e Lula em recente entrevista concedida ao jornalista Roberto D’Avila, da Globo News. O sociólogo Fernando Henrique é um dos intelectuais mais respeitados do país.
Sobre reforma política: "Esse sistema não está funcionando. Um país que tem mais de 30 partidos, vinte e poucos operando no Congresso. Agora não são dois ou três partidos que se juntam. É todo mundo que se organiza em partido para poder tirar um pedacinho do governo, para ter uma diretoria. E isso é a mola fundamental para aumentar a corrupção. Estamos vendo que esse negócio não vai dar certo. O que vai dar certo? Acho que de cara não dá pra fazer um parlamentarismo, mas dá pra começar a mexer no modo de votar. A presidente Dilma está lá apertada por causa desse sistema também, como todos foram. No meu tempo foi mais fácil, porque não havia tantos partidos. E eu tinha um propósito: reformar a Constituição. Então a aliança era pra isso. Depois, o presidente Lula veio pra nada, porque não reformou constituição nenhuma! O que ele queria? Hegemonia, dominar tudo. E deu o mensalão! Ele diz que não aconteceu. Todo mundo sabe que houve o mensalão."

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Sobre o Plano Real:  Aquele momento era o seguinte: você tinha uma inflação em média de 20% ao ano. Agora, nós aprendemos com os planos anteriores, inclusive o plano Cruzado, que ensinou, e eu consegui juntar as pessoas. O governo, os amigos do presidente Itamar desconfiavam muito. Ele próprio: “O que é isso?”. Não entendia. Economia é complicado. Geralmente você tem que fazer o contrário do que parece o óbvio. Eu não sou economista, mas eu sei. Fui da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), conheço razoavelmente para acompanhar. É muito difícil juntar gente com muito talento. A visão prevalecente era a seguinte: isso é fruto da especulação. Enquanto o pessoal do governo me dizia: "Olha aqui, prende o Abílio - o Abílio Diniz, dono do Pão de Açúcar -, prende o Abílio, porque é especulador e controla os preços, segura os preços". Era essa a visão comum. Nós tivemos que mostrar o contrário, explicar ao presidente Itamar. O Bacha foi muito importante na explicação ao presidente Itamar, que não entendia muito dessa dinâmica. O Itamar sempre me deu força naquela época. Depois, quando ele foi eleito governador, ele esqueceu o que era o Real. Ele achou que podia fazer uma moratória de Minas e não podia. O plano Real, de imediato, beneficiou o salário, porque quando você tem uma inflação de 20, 30 no mês, você na média perdeu 15, que vai perder no dia a dia.

Sobre o Governo FHC e governo Lula: "Foram momentos que você teve estabilização e políticas sociais - Lula distribui mais riquezas -  porque tinha mais condições, porque a economia estava mais... Eu peguei cinco crises, mas as bolsas foram criadas por mim, todas. A reforma agrária eu fiz mais, duas, três vezes mais, do que o governo atual. Educação, o acesso à escola primária foi no meu tempo, e o SUS praticamente foi montado no meu governo. O Globo fez uma síntese de tudo isso muito interessante, publicada há um tempo atrás, comparando os governos. Itamar e FH e Lula e Dilma. Indiscutivelmente, houve uma melhoria maior da situação, porque o mundo também favoreceu isso, porque o Lula tinha um compromisso forte com isso também. Eu nunca faço injustiças como ele faz comigo, mas no conjunto nós aprendemos a manejar as políticas para o mundo atual, que é de globalização, onde os nossos interesses nacionais têm que ser defendidos num plano global, " explica FHC. 

Veja a entrevista na íntegra (aqui).

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