Especialistas condenam ação policial que matou jovem por engano.

Rio -  A desastrosa ação policial que resultou na morte da jovem Haíssa Vargas Motta, de 22 anos, baleada nas costas por um PM, em Nilópolis, na Baixada Fluminense, na madrugada do dia 2 de agosto do ano passado, foi criticada por especialistas em segurança pública.Um vídeo com imagens da viatura onde estavam os agentes foi divulgado neste sábado pela revista “Veja”.

"O policial só deve atirar estritamente para proteger a terceiros, ou a si mesmos. E jamais pode abrir fogo durante uma perseguição, sobretudo em um contexto que era de mera suspeição. Em hipótese alguma o policial dá o primeiro tiro em uma situação assim. Mesmo que fosse um criminoso fugindo, é preferível deixar escapar do que atirar dessa maneira em via pública" — explicou o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública.

As câmeras da viatura mostram toda a sequência que culminou com a morte da atendente de telemarketing. Em um primeiro momento, os PMs Márcio José Watterlor Alves e Delviro Anderson Moreira Ferreira, ao perceberem a aproximação do veículo onde estava Haíssa, um Hyundai HB20, comentam ser um “carro daquele branco que tá roubando para c...” e iniciam uma perseguição. O fato de o motorista estar “de boné tudo”, como diz Delviro, também é usado para justificar a ação ofensiva.

'Não existe essa recomendação para atirar em pneus' 


Dias depois da morte de Haíssa, os PMs contaram na 58ª DP (Posse), onde foi feito o registro de ocorrência, que faziam um patrulhamento na Avenida Marechal Alencar quando avistaram o carro, semelhante a um usado por bandidos da região. Eles contam que perseguiram o veículo até Olinda, em Nilópolis, e que pediram para o motorista parar, mas não foram atendidos. De acordo com os policiais, lotados no 41º BPM (Irajá), eles ouviram um barulho que parecia um tiro e, por isso, dispararam sete vezes nos pneus do carro onde estava Haíssa.

"Não existe essa recomendação para atirar em pneus durante uma perseguição. Isso só funciona no cinema" — ponderou o coronel José Vicente.

A versão dos amigos que estavam com a jovem, contudo, era diferente. Eles afirmaram que só perceberam que o veículo que estava atrás deles era da PM quando os disparos foram efetuados.

Antes disso, viram apenas um farol alto e pensaram que seriam assaltados. "O que vai esclarecer esse conflito são as imagens da câmera das duas viaturas que fizeram a perseguição" — disse, na ocasião, o delegado-adjunto Thiago Martins, da 58ª DP.

Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

Procurada, a PM informou que "na época do fato, abriu um Inquérito Policial Militar (IPM), que encontra-se na Corregedoria em fase de conclusão". Já a Polícia Civil comunicou que o inquérito já foi relatado e enviado à Justiça.
   
Fonte (s): Jornal Extra e Revista Veja.