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Fauja Singh Morre aos 114 Anos: O Maratonista Centenário Que Venceu o Tempo e o Preconceito

Maratonista idoso com turbante cruza a linha de chegada com expressão de superação, sob aplausos, representando força e longevidade.
Fauja Singh morreu. A frase parece comum, não fosse o fato de que ele tinha 114 anos e foi, até o último suspiro, o símbolo vivo de que nunca é tarde demais para começar a correr — ou recomeçar a viver.

Singh foi atropelado durante sua caminhada diária em Beas Pind, na Índia, sua terra natal. Uma ironia cruel para um homem que correu maratonas inteiras quando o mundo dizia que ele já deveria estar parado. Sua morte marca o fim de uma jornada biológica, mas não o fim do seu legado. Pelo contrário: é agora que sua história precisa ser revisitada, reinterpretada e espalhada como semente de inspiração.

Em 2011, aos supostos 100 anos de idade, Singh completou a Maratona de Toronto com 42 km em 8h25. Poucos dias antes, havia quebrado oito recordes em provas de pista que iam dos 100 aos 5.000 metros. Sim, em quatro dias. Tudo isso com pernas magras, apelidadas na infância de "palito", e um sorriso sereno de quem transformou dor em propósito.

Sua certidão de nascimento? Nunca apareceu. E aí começou uma discussão que, sinceramente, diz mais sobre o nosso sistema do que sobre ele. A falta de um documento oficial invalidou seus recordes para o Guinness World Records. Mas pergunto: o que vale mais — um selo oficial ou um exemplo que inspirou milhões?

Aos olhos das regras, Singh era apenas "um caso não comprovado". Mas para quem o viu cruzar a linha de chegada, ele era a prova viva de que limites são construções sociais. Nascido em uma Índia rural, sem escola, sem registro, e sem privilégio algum, ele só começou a correr oficialmente aos 80. Depois de perder esposa, filho e filha, ele escolheu não parar — nem física, nem emocionalmente.

Esse é o ponto central: Fauja Singh não é uma curiosidade estatística, é um argumento vivo contra a letargia do envelhecimento. Mostrou ao mundo que a corrida, mesmo iniciada na velhice, pode dar novo sentido à vida, restaurar a disciplina, combater a solidão e transformar tristeza em foco. A corrida, para Singh, não foi uma fuga da dor. Foi o caminho para superá-la.

No Corrida aos 50+, defendemos que envelhecer em movimento é uma escolha revolucionária. E a trajetória de Fauja Singh nos empurra para refletir: o que estamos esperando? Ele nos ensinou que o tempo pode ser nosso aliado — se dermos o primeiro passo.

Sua frase mais marcante talvez tenha sido:

 “As primeiras 20 milhas não são difíceis. As últimas seis eu corro conversando com Deus.”

Aos 114 anos, ele enfim silenciou seus passos. Mas sua corrida continua — nos pés e nos corações de todos que ousam resistir à inércia e desafiar o tempo com cada passada.

Fauja Singh morreu. Mas seu exemplo corre entre nós.

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