Correr mais com TDAH: quando a vontade ultrapassa o limite do corpo
Quem convive com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) sabe: a mente dificilmente aceita o descanso. O impulso de correr mais, de ultrapassar o limite, não é apenas disciplina ou paixão pelo movimento — é uma necessidade quase visceral de silenciar o turbilhão interno. Para o neurodivergente, parar parece sinônimo de fracasso, e a linha entre superação e exaustão se dissolve com facilidade.
O corredor com TDAH vive preso a um ciclo de autoafirmação: se consegue correr 5 km hoje, precisa provar a si mesmo que pode fazer 7 amanhã. Não se trata apenas de evolução esportiva, mas de um vício psicológico alimentado pela busca de dopamina. Cada treino vira uma oportunidade de sentir o alívio imediato de um cérebro que clama por intensidade — e isso reforça ainda mais o padrão.
O problema é que essa “fome de mais” não respeita limites fisiológicos. A pressa em aumentar quilometragem, o desprezo pelo descanso e a incapacidade de lidar com a frustração levam muitos a cruzar o território do risco: lesões, síncopes, fadiga crônica. E, ainda assim, o pensamento é simples: “se eu posso mais, por que parar agora?” Essa lógica confirma a tendência: o TDAH não só influencia a forma de treinar, mas distorce a noção de autocuidado.
TDAH e corrida: por que querer correr sempre mais pode ser perigoso
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É duro admitir, mas o comportamento repete-se como um padrão. O TDAH não perdoa: transforma a corrida em válvula de escape e, ao mesmo tempo, em armadilha. Quem corre com esse perfil precisa de consciência crítica, porque, caso contrário, a mesma energia que impulsiona pode ser a que derruba. No fim, não é a falta de capacidade que ameaça o corredor neurodivergente, mas o excesso de vontade.
