Laboratórios clandestinos de anabolizantes viram negócio lucrativo no Brasil.

Laboratórios clandestinos de anabolizantes viram negócio no Brasil. A informação foi divulgada neste domingo, 16, pelo 'Fantástico', que investigou esse comércio clandestino, que tem conexões na China e no Paraguai e abastece laboratórios caseiros espalhados pelo país.
De acordo com a reportagem, um novo negócio invade o submundo das academias. São laboratórios clandestinos, caseiros, como um, dentro de um quarto em Porto Alegre, ou como um outro, mais bem equipado, no Rio de Janeiro. Uma rede que fatura alto com a fabricação de anabolizantes piratas.“Embora esses laboratórios clandestinos sejam comprovadamente localizados no Brasil, todos os produtos por eles fabricados vêm etiquetados como se fossem feitos fora do Brasil, geralmente em espanhol ou inglês, México ou Estados Unidos”, conta o delegado Polícia Federal Bruno rigotti.


A operação da Polícia Federal fechou outros dois laboratórios e prendeu 18 pessoas. O negócio movimentava, por mês, R$ 1 milhão. “Além disso, foram sequestrados bens e imóveis de alto padrão a maioria localizado em bairros nobres do Rio de Janeiro avaliados em mais de R$ 10 milhões”, afirma o delegado federal.

Matérias-primas
As principais matérias-primas desses anabolizantes vêm diretamente da China e Índia ou entram pelo Paraguai. O produto ilegal vai dentro de caminhões escondido em lâmpadas, aparelhos eletrônicos, filtros de água e, o que é mais comum, em potes de suplementos. A matéria-prima vai para laboratórios caseiros, como os que foram descobertos no Rio Grande do Sul. E nesses laboratórios o pó de testosterona é manipulado e misturado a outras substâncias, como óleo de girassol ou de amendoim, para fabricar os anabolizantes piratas. “Ele tinha marca, tinha uma embalagem, uma etiqueta com prazo de validade, com endereço da empresa. Tudo falso, claro”, conta o delegado da Polícia Civil do RS, Mário Souza.

Controle sanitário

Não há qualquer tipo de controle sanitário. O que também é fora da lei. “Além do risco do anabolizante em si, a pessoa está exposta ao risco dos contaminantes biológicos e também dos contaminantes químicos. Todos os resíduos então provenientes dessa falta de controle durante a fabricação ou mesmo da compra da matéria-prima utilizada”, explica a toxicologista da PUC-RS Flavia Thiesen.


E como os anabolizantes chegam aos usuários? Boa parte desse comércio acontece pela internet. Nosso repórter se infiltrou em fóruns e redes sociais, em grupos secretos, onde só entra quem tem convite. Os traficantes negociam os anabolizantes piratas a preços mais baixos. Fora do mundo virtual, a distribuição é na base do boca-a-boca em academias.

Efeitos colaterais
Os anabolizantes, tanto os piratas quanto os originais, contêm testosterona sintética ou derivados. Testosterona é o hormônio masculino, e o anabolizante feito a partir dele pode ser ingerido, em comprimidos, ou injetado. Por causa da dose extra de hormônio, as células acumulam água. O metabolismo fica acelerado, e isso potencializa o resultado dos exercícios físicos. A pessoa ganha muita massa muscular. Mas existem vários efeitos colaterais.

“Efeitos adversos mais comuns são efeitos menores: atrofia do testículo nos homens, mudanças no padrão da voz em homens e mulheres, aumento a oleosidade da pele, crescimento inadequado de pelos. Podem ocorrer inúmeras mudanças de comportamento, como aumento da agressividade e outras alterações”, explica o médico cardiologista Anderson da Silveira.

E mais: o usuário pode ter problemas graves de coração, de fígado, rins, ficar impotente ou até desenvolver um câncer. Risco que pode levar à morte. 

E se já é arriscado abusar dos anabolizantes industrializados, qual é o risco para a saúde de tomar um produto pirata? “Esses subprodutos a gente não conhece o efeito. Pode ser que eles não tragam nenhum mal à saúde, mas pode ser ainda que eles sejam mais tóxicos do que o próprio anabolizante”, diz a toxicologista Flavia Thiesen.

Fins estéticos

Os anabolizantes não podem ser usados para fins estéticos, para ajudar na malhação. Mas eles são indicados em outros casos, quando um paciente precisa de reposição hormonal, por exemplo. Sempre com indicação médica. “Estão indicados em algumas doenças herdadas em que nosso organismo não produz adequadamente esses hormônios”, explica o médico Anderson da Silveira.

Até para fins medicinais, vários tipos de anabolizantes são proibidos no Brasil e a venda é considerada tráfico. Veja a reportagem do Fantástico, aqui.

Fonte g1.globo.com/fantastico

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