Judas Iscariotes: O herói ou o vilão da história de Jesus? Mitos e verdades revelados

Judas Iscariotes é uma das figuras mais controversas da história do cristianismo. Ele foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo, mas também o responsável por entregá-lo aos seus inimigos por trinta moedas de prata. Mas quem era realmente Judas? Por que ele traiu Jesus? Como ele morreu? Neste post, vamos explorar alguns mitos e verdades sobre esse personagem bíblico.

Mito: Judas era o único apóstolo que não era judeu

Uma das teorias mais difundidas sobre Judas é que ele era o único apóstolo que não era judeu, mas sim um ismaelita, descendente de Ismael, filho de Abraão com a serva Agar. Essa ideia se baseia no fato de que o sobrenome de Judas, Iscariotes, seria uma corruptela de Iscariota, que significaria “homem de Queriote”, uma cidade da região de Edom, habitada pelos ismaelitas.

No entanto, essa teoria não tem fundamento histórico nem bíblico. O sobrenome Iscariotes provavelmente deriva da palavra hebraica sicário (סיקרי), que significa “homem da adaga”, um termo usado para designar os membros de um grupo radical judeu que se opunha à dominação romana e praticava atentados contra os colaboracionistas. Judas poderia ter sido um sicário ou ter simpatia por essa causa. Além disso, não há evidências de que Judas não fosse judeu como os demais apóstolos. Pelo contrário, seu nome é uma forma grega de Judá (יהודה), um dos nomes mais comuns entre os judeus da época.

Verdade: Judas traiu Jesus por dinheiro

Uma das verdades mais aceitas sobre Judas é que ele traiu Jesus por dinheiro. Os evangelhos canônicos concordam em afirmar que Judas recebeu trinta moedas de prata dos líderes religiosos judeus para entregar Jesus a eles. Essa quantia era equivalente ao preço de um escravo na época e cumpria uma profecia do Antigo Testamento (Zacarias 11:12-13).

Mas por que Judas aceitou esse dinheiro? Há várias hipóteses possíveis. Uma delas é que Judas era avarento e desonesto. O evangelho de João afirma que ele era o tesoureiro dos apóstolos e roubava o que lhe era confiado (João 12:6). Outra hipótese é que Judas estava desiludido com Jesus e sua mensagem. Talvez ele esperasse um messias político e militar, que libertasse Israel do jugo romano, e não um messias espiritual e pacífico, que pregava o amor aos inimigos. Nesse caso, Judas teria traído Jesus por decepção ou frustração. Uma terceira hipótese é que Judas estava possuído pelo diabo. O evangelho de Lucas diz que Satanás entrou em Judas antes da traição (Lucas 22:3). Nesse caso, Judas teria sido apenas um instrumento involuntário do mal.

Mito: Judas se enforcou após a traição

Judas Iscariotes
Uma das questões mais intrigantes sobre Judas é como ele morreu após a traição. A versão mais conhecida é a do evangelho de Mateus, que diz que Judas se arrependeu do que fez, devolveu as moedas aos sacerdotes e se enforcou em um campo (Mateus 27:3-10). Essa versão também cumpre uma profecia do Antigo Testamento (Jeremias 19:1-13).

No entanto, essa versão é contraditória com a do livro de Atos dos Apóstolos, que diz que Judas comprou um campo com o dinheiro da traição e morreu nele de forma acidental e grotesca: “E, precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram” (Atos 1:18). Essa versão também cumpre uma profecia do Antigo Testamento (Salmos 69:25).

Como explicar essa discrepância? Há várias possibilidades. Uma delas é que os dois relatos se refiram a eventos diferentes. Talvez Judas tenha tentado se enforcar, mas a corda tenha se rompido e ele tenha caído e se arrebentado. Outra possibilidade é que os dois relatos sejam simbólicos e não literais. Talvez Judas não tenha morrido fisicamente, mas espiritualmente. Sua morte seria uma forma de expressar sua culpa e sua condenação. Uma terceira possibilidade é que os dois relatos sejam fruto de tradições orais divergentes e não tenham um fundo histórico confiável.

Verdade: Judas foi considerado um herói por alguns grupos cristãos antigos

Uma das verdades mais surpreendentes sobre Judas é que ele foi considerado um herói por alguns grupos cristãos antigos, chamados de gnósticos. Esses grupos tinham uma visão diferente da ortodoxa sobre Jesus e sua missão. Eles acreditavam que Jesus era um ser divino que veio revelar aos homens o conhecimento secreto (gnose) para libertá-los da prisão material do mundo criado pelo deus mau (demiurgo). Para eles, a morte de Jesus na cruz não foi um sacrifício expiatório pelos pecados da humanidade, mas uma forma de escapar da carne corruptível e retornar à plenitude divina.

Nessa perspectiva, Judas teria sido o discípulo mais fiel e mais sábio de Jesus, pois teria cumprido sua vontade ao entregá-lo aos seus algozes. Judas teria sido o único a entender o verdadeiro significado da missão de Jesus e a colaborar com ela. Essa visão de Judas está presente em um texto gnóstico do século II ou III d.C., chamado Evangelho de Judas, que foi descoberto em 1978 no Egito e publicado em 2006. Nesse texto, Jesus diz a Judas: “Tu superarás todos eles. Pois tu sacrificarás o homem que me reveste” (Evangelho de Judas 56:20-21).

Essa visão de Judas foi rejeitada pela Igreja cristã oficial, que a considerou herética e perigosa. A Igreja condenou o gnosticismo e seus escritos como desvios da verdadeira fé e tentou eliminá-los da história. No entanto, alguns desses escritos sobreviveram ao tempo e nos permitem conhecer uma diversidade de interpretações sobre Jesus e seus discípulos que existiu nos primeiros séculos do cristianismo.

Conclusão

Judas Iscariotes é um personagem complexo e fascinante, que suscita muitas perguntas e poucas respostas. Sua figura está envolta em mitos e verdades, que refletem as diferentes formas de entender sua personalidade, seus motivos e seu destino. Judas foi um traidor ou um herói? Um vilão ou um mártir? Um pecador ou um santo? Talvez não haja uma resposta definitiva para essas questões, mas sim uma variedade de perspectivas que nos convidam a refletir sobre o mistério da fé, da graça e da salvação.

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